Hoje relato uma história de Natal que me comoveu muito por conhecer a família e descobrir como o amor pode ser vivido numa vida simples, e como essas histórias de carência contribuíram para formação de homens e mulheres de bom caráter que exercem suas profissões com dignidade e coerência.
“Pertenço a uma família baiana com 12 filhos legítimos e alguns adotados. Minha mãe adotava as meninas que apareciam em casa, as colocavam na escola e as ensinavam uma profissão para que tivessem um futuro diferente da pobreza que viviam.
Nosso café da manhã era recheado de cuscuz e um pouco de manteiga que eram democraticamente divididos pela nossa mãe, uma líder baixinha e forte que tomava conta das peraltices dos filhos e das maluquices das filhas, que reunidas com as primas e as irmãs adotivas, não deixavam ninguém sossegado.
Morávamos numa pequenina cidade do interior e eu me deliciava curtindo o cantar dos passarinhos. Até criei alguns em gaiola um bom tempo. Tinha um pato chamado Dodô e um pintinho cujo nome era Gentil. Meu passatempo era jogar futebol com uma bola de meia velha ou um limão que se misturava com as pedras que existiam no campo improvisado e que faziam um estrago danado nos dedos dos pés. Mas essa brincadeira era vivida com os amigos e apesar dos estragos dos pés, nos fazia muito feliz! Outra distração era plantar alguns pés de milho e ficava cultivando-os para ver se produziam, mas a “colheita” não dava muito resultado.
A noite, como não existia luz elétrica, eu ficava com meus amigos sentados no meio fio olhando as estrelas no céu e aquela faixa grande e branca, que depois de adulto fiquei sabendo eu era a Via Láctea. E nesses momentos, nosso passatempo era contar as estrelas, mas éramos sempre advertidos pelos adultos que diziam que se apontássemos os dedos para as estrelas, criaríamos verrugas no corpo. Mas o sentimento de estar vislumbrado aquele manto lindo e piscante, era maior e mais emocionante que o medo.
Natal não existia em nossa casa. Ninguém o comemorava porque a pobreza era tanta que era impossível comprar presentes para aquela turminha toda. Mas mamãe levava todo mundo para a igreja para assistirmos a missa de Natal e beijarmos a figura do menino Jesus.
Um dia, ouvi a música “Deixei meu sapatinho na janela do quintal, papai Noel deixou um presente de Natal…”. Lembro-me que fiquei muito feliz, pois na música dizia que ele não esquecia nenhuma criança. Pensei: “Esta é a minha chance de ganhar um presente”.
Na noite de Natal, depois que todos dormiram, coloquei um pezinho do meu único sapatinho na janela e fui para a cama. Quase não dormi de tanta ansiedade!
Acordei cedo e corri para a janela saltitando e pensando no que o papai Noel poderia ter deixado para mim. Mas não encontrei nem o presente e muito menos o meu pé de sapato. Infelizmente, um larápio se antecipou ao velhinho e o levou.
Chorei desesperadamente e compulsivamente, quietinho no quintal, sendo observado pelo meu patinho Dodô e meu pintinho Gentil que não entenderam nada. Mais um Natal fiquei sem o presente e desta vez, também sem um par de sapato.
Minha mãe, meus irmãos e irmãs, não sabiam do acontecido e o motivo de meu choro, mas como eu era muito introvertido, me resguardei o direito de permanecer calado.
No dia seguinte, fui para a escola somente calçado com o pé esquerdo de sapato. Quando meus colegas perguntavam, eu dizia que meu pé descalço estava doente.
Com o tempo fui crescendo, formei minha família e hoje tenho netos e bisnetos. Mas quero que a lenda do papai Noel seja cultivada e vivenciada por todos os meus descendentes. Quero que cada criança de minha família descubra a verdadeira história da lenda por si só.
Eu vi a alegria de meu neto em ver o papai Noel e não conseguia conter a emoção de ficar na fila esperando sua vez para bater uma foto. Por que eu iria tirar esta alegria dele?
E o outro neto, que mal consegue escrever ainda, rabiscou uns pedidos e junto desejou que o papai Noel fosse muito feliz também.
Natal representa amor, união, alegria, esperança, enfim, é a exaltação do que existe de melhor no ser humano. Poderia dizer que existe um lado comercial nesta data, e sim, existe, mas não acredito que ele seja maior do que o sentimento que se propaga.
Hoje, colaboro com campanhas para que crianças carentes comemorem seu Natal. Já me vesti de papai Noel, já ganhei e dei presente de amigo secreto, enfim, faço uma festa às honras desta data com o coração leve e feliz.
Encerro meu relato dizendo que: “Tudo seria bem melhor, se o Natal não fosse um dia….”
(Canção do Padre Zezinho “Estou pensando em Deus.”)
32 Comments
Verdade amiga, o Natal teria que ser todo dia. Li e gostei muito pois é simples e verdadeiro 😍
Jussara, verdade concordo com vc. Simples e real.
Lindo depoimento do meu pai, homem simples e forte, gigante vencedor.
Obrigada!
Beijos
Isabella.
Isabella, um grande homem nem sempre compreendido, mas como compreender um homem tão grandioso???
muito obrigada por curtir a varanda.
Muito bacana ler o relato da infância de um homem que é meu pai ,e que desde a infância é um homem simples e adimiravel.Consegui vencer a pobreza e hoje faz feliz não só o natal de crianças carentes,mas o de toda família.Obrigada sempre meu pai,pelo exemplo.Beijos!
Monica, hoje ele consegue ver as coisas diferentes porque cresceu espiritualmente, porem sempre simples. Um grande vencedor nem sempre compreendido mas faz parte dos grandes homens. Muito obrigada por estar sempre na varanda. beijos
Muito legal!
Esta é uma prova de que não são as dificuldades da vida que torna uma pessoa boa ou ruim! Acho que o caráter já nasce com a gente!
👏👏👏🎅
Noeli Salete, um grandioso e curioso assunto aonde nasce o caráter. Valeu a dica.
Que linda a história ,o que mais me encanto na história que não perdeu a magia do Natal ,que é o amor e assim o cultiva ajudando para que crianças vivam essa magia . parabéns Roseli a cada semana um relato de ensinamentos e amor .
Amei a história pela beleza e simplicidade. Um grande homem hoje.
Nossa pura realidade. ..
Concordo com vc.
Bom dia, isso teria ser o dia dia, pelo menos uma vez no ano recompensa, muito lindo, Feliz Ano para todos e muita esperança para um Brasil melhor bjs.
Você disse tudo deveria ser o normal, a rotina. Muito obrigada
Muita linda a história,o Natal tem esse espírito de secibilidade de bondade, pena que as pessoas logo esquecem, mas Aida existe pessoas que pensam e se preocupam com outras .
Cleusa o Natal mexe com a sensibilidade das pessoas e deveria ser assim sempre. beijos
Lindo!
muito obrigada
Uma linda história!
muito obrigada
Ao passar o tempo tenho mais certeza que é na simplicidade que está o amor!!
Lindo relato! Parabéns Roseli compartilhar
Concordo a simplicidade sempre presente. beijos muito obrigada
LINDO E VERDADEIRO
muito obrigada
História linda e emocionante, eu amo o Natal 🎄 e deixei meus filhos acreditarem na magia do papai noel 🎅.
Léia, amei a história também deixei meus filhos acreditarem gosto da magia e do encantamento da data.
Que linda história!
Muito obrigada
Belo exemplo!
muito obrigada
Caráter é tudo em uma pessoa, linda história….
Obrigado amiga Roseli por conseguir me colocar sentada em sua varanda para ler histórias, relatos lindos e emocionante como esses…. Bjs
Monica, muito obrigada pela sua presença sempre na varanda.