Quando participo de um jantar e a anfitriã (ou anfitrião) me conta que preparou com as próprias mãos os pratos que iremos saborear, como comprou os ingredientes e o que usou na receita, confesso à vocês o meu primeiro pecado, leitores da Varanda: Eu tenho ciúmes! Caramba…sim, eu sou ciumenta, porque ainda não aprendi a manipular essa apetitosa arte.
Sei que a cerimônia de uma refeição começa na escolha do cardápio, depois a aquisição dos ingredientes, definição do cozimento ideal, e que os temperos principais são a vibração e energia utilizadas naquele ritual dos deuses.
Sabem por que sei? Meu marido é um grande chef! Todos gostam do que ele faz e eu admiro a cerimônia, a alegria e a festa que ele faz quando anuncio que teremos convidados para jantar ou que vou jogar um baralho com as amigas, pois ele mesmo se encarrega do que vamos saborear.
Minha mãe não se preocupou em nos ensinar a cozinhar. Ela também não sabia e tomara que no céu não tenham redes sociais para que leia isso. Assim como ela, comecei a trabalhar muito cedo. Os únicos dias para este tipo de aprendizado eram sábado ou domingo, mas ela nos deixava descansar e ainda nos ensinou um lema: “Quem não sabe fazer, precisa trabalhar para ter dinheiro e pagar quem sabe.”
Como já falei, comecei minha labuta aos 14 anos. Estudava a noite, trabalhava durante o dia e no final de semana brincava de bonecas, e nesta rotina fui crescendo sem ter intimidade com a cozinha.
Meu pai, quando estava em casa, acordava as filhas, como bom italiano que era, abrindo a janela e proferindo palavras de ordem: “Está na hora! O dia já nasceu, vamos, vamos!”
Uma vez eu disse: “Meu pai, você pode pelo menos não abrir a janela?” O sol batia na minha cama e era muito forte!
Ele respondeu com a alegria que lhe era peculiar: “Dilicada… (fazendo gozação, porque ele sabia que eu era delicada)… se o sol está assim, é porque vocês deviam ter levantado mais cedo! Vamos!” – E foi a única e última vez que retruquei. Num domingo ele disse: “Mãe (assim ele chamava sua esposa), hoje elas vão aprender a fazer maionese”. Então, lá fui eu. Peguei o prato, comecei a bater os ingredientes e chegou uma visita para o papai. Corri para o vidro da porta da cozinha e de tanto olhar o moço bonito, que mais parecia um vaqueiro de filmes, bati sem direção e derramei todo molho no chão. Minha mãe disse: “Já avisei seu pai que vocês não estão preparadas para cozinharem!”
Na família temos várias cozinheiras de mão cheia (como dizem por aí), mas tem uma que é acima da média e ela diz: “Cozinhar, para mim, é demonstração de afeto!”
Tem um aspecto interessante sobre comida, porque ela mexe com suas lembranças. Eu tenho uma amiga chamada Rosa que tem 7 irmãos e ela conta que o pai comprava caixas de tudo, pois a família era enorme, mas o mais gostoso era quando a mãe cozinhava e reunia todo mundo à mesa com um cardápio bem variado. Para essa amiga, a mesa posta é símbolo de união e quando se lembra, sente nostalgia e saudades.
Ivete, uma outra amiga, que faz o melhor risoto do mundo, conta que aos 12 anos tinha uma irmã 6 anos mais velha que namorava quarta, sábado e domingo, e ela preparava uma comida melhor quando o pretendente chegava. Quem fazia bolo cuca e outras delícias, era Ivete, pois a irmã trabalhava e não tinha tempo. Os dois se casaram e quando ela visitava a irmã, fazia o risoto para eles. E hoje, depois de aposentada, ela voltou a cozinhar e ama sua comida. “O mais importante são as pessoas gostarem de comer, pois a cozinheira fica feliz!”, diz Ivete.
Salete, outra amiga, relata: “Quando eu coloco o prato à mesa e vejo a satisfação de minha família, fico muito feliz! Cozinho desde os 5 anos de idade. Minha mãe deixava a panela de carne no fogo e mostrava o sol através de marca na escada. Quando o sol bater aqui, dizia ela, você pega esta panela de arroz, coloca no fogão à lenha e fica mexendo para não queimar, e quando começar a dar estourinho, você coloca água. E eu fazia isso. Até hoje gosto de cozinhar, mas não gosto de fazer muita coisa ao mesmo tempo”
Muitas são as histórias quando se trata de comida. Muitas são as memórias que retornam à mente das pessoas e muitos cheiros nos reportam às lembranças da infância. Loucuras se cometem por conta de comida. Minha amiga Madalena tinha dois filhos e quando comprava presunto, dividia as fatias, mas o mais velho sempre “roubava” as fatias do irmão menor que era mais lento e mais educado. Num dia em que ela estava com os nervos à flor da pele, a briga por causa do presunto começou. Então, foi ao mercado, comprou meio quilo de presunto e fez o menino comer ele todinho. No outro dia, o garoto deu entrada no pronto-socorro. O que sei é que ele nunca mais comeu presunto.
Não sei cozinhar, mas sou boa de garfo e uma excelente apreciadora. Provo e como o que me oferecem, desde o prato mais sofisticado até o mais simples. Agradeço muito quem faz, pois como disse, a arte de cozinhar é para quem pode e não para quem quer!
14 Comments
Bom dia!
Muito legal você abordar estes assuntos Roseli! Corriqueiros, na maioria das vezes comemos automaticamente na correria do dia a dia e não saboreamos estas obras de arte! Cada um a seu modo,a seu gosto mas todos temos um paladar,deveríamos apreciar mais e principalmente quando na companhia da família e amigos! Quando você e seu “Grande chef” precisarem de alguém para degustação estaremos sempre a disposição ok! 😂😂
Salete concordo com vc, cozinhar é uma arte e saber saborear também é poderia ter falado nisso, esqueci. Chamarei sim.
Bom dia!
Histórias fantásticas!
Sou sua fã.
Qualquer hora destas, vou contar um pouco da minha também.
Fatima, que bom que você gosta. Será um prazer você participar da Varanda. Vou lhe procurar.
Texto gostoso de se ler, rsrs! Gratidão pelas pessoas que preparam os alimentos e por tudo e todos que colaboram para que os alimentos cheguem à nossa mesa.
Parabéns pelo texto.
Isabela gratidão pelas suas palavras também. Muito obrigada pelo seu carinho e participação.
Amo os textos da minha querida amiga Roseli .
Parabéns 🙏
Rosa Maria e desta vez você estava junto. Muito Obrigada.
Encantada com os temas e textos que voce escreve, amiga. Parabens!
Neiva que bom que encanta você. Faço com muito amor e respeito aos leitores da VAranda. bjs
A comida e seus encantos..
Quando me disponho a cozinhar é como se eu estivesse doando e declarando meu imenso carinho a quem vai saborear as comidas que faço.
Sempre muito especial cozinhar para quem amo!
💚
Grata pela linda mensagem.
Você é muito especial para nós em todos os aspectos. \muito obrigada, especialmente na comida rs.
Cozinhar é uma das formas mais lindas, de amar as pessoas. Muito legal o texto, sempre inspirador
Sim eu acredito e fico encantada com tanto amor dedicado.