Recebi na Varanda minha amiga Isabella Lins. Temos grandes diálogos filosóficos e questionadores que vez por outra, queimam a “cachola”, como diria minha mãe, mas este fato resolvemos dividir com vocês porque foi muito inusitado. Espero que tirem alguma lição dele.
“Quando menos esperamos, a vida nos dá um tabefe na cara! Talvez seja para despertar nossa coragem, talvez para nos tornar mais ágeis para observar com mais cautela ao nosso redor e infinitas possibilidades de ver o lado positivo dos “tabefes” que deixam experiência e aprendizado.
Pela primeira vez programei uma viagem com minhas duas filhas e nossa cachorrinha para um paraíso cheio de montanhas e cachoeiras.
Alugamos um aconchegante chalé e lá fomos nós aproveitar dias de descanso e aventura.
O vilarejo fica localizado na Serra do Cipó em Minas Gerais e tem aproximadamente 300 habitantes que vivem da subsistência, agricultura e turismo. Possui belezas naturais encantadoras e aprazíveis, sendo desta vez a minha quinta estadia no local.
De tanto gostar quis levar minhas filhas para experimentar subir nas montanhas, apreciar as belas paisagens, contemplar noites de lua cheia e mergulhar nas águas geladas das lindas cachoeiras.
Num desses passeios tínhamos que pagar a entrada para conhecer uma das Cachoeiras que fica dentro de uma reserva particular. Na portaria do local, fomos recepcionadas por dois senhores, pagamos o valor das entradas e muito animadas e felizes iniciamos o percurso a pé, e fomos caminhando por aproximadamente uns 40 minutos até a cachoeira.
Estávamos nós três, eu e minhas duas filhas de 24 e 15 anos, nos deliciando com a incrível harmonia entre vegetação, rochas, água e pássaros. Estiramos toalhas nas pedras e ora tomando banho no poço, ora se aquecendo nas pedras em pleno sol do mês de julho, sem nuvens e o céu absolutamente azul.
Após algum tempo na curtição, vimos um dos senhores da portaria se aproximar devagar ao local onde estávamos. Esse senhor se dirigiu a minha pessoa e perguntou: “Dona, a senhora pode trocar cem reais para mim?” Fiquei apreensiva e respondi que não, que não tinha como trocar os cem reais. Enquanto isso, meus pensamentos estavam a mil já que imaginei o senhor subindo aquele morro íngreme de cascalho por uns 40 minutos para pedir para alguém trocar o dinheiro.
Ele voltou a se dirigir a mim e disse: “Dona, eu insisto, será que a senhora pode ver se troca de cem reais para mim?” Gelei! Peguei minha mochila e procurei minha carteira e não a encontrei. Perguntei para minhas filhas se elas estavam com minha carteira e responderam que não estavam. Durante essa cena, o senhor permanecia nos observando e aguardando. Então, após alguns minutos observando a procura pela carteira o senhor me disse: “A senhora não está encontrando sua carteira porque ela está comigo, porque foi esquecida na portaria e aqui há dinheiro suficiente para a senhora trocar os cem reais. E pode contar todo o dinheiro que não foi retirado nem um centavo!”
Eu realmente emudeci. Na carteira havia um valor razoável, mas fiquei com receio de atender aquele pedido tão inusitado estando ali, no meio da natureza, sozinha com minhas duas filhas.
Ele retirou a minha carteira de dentro da blusa e me entregou.
Desculpei-me, ofereci cinquenta reais pela devolução da carteira, o que foi aceito.
A lição que fica é que eu aprendi que mesmo diante do receio de ser assaltada no meio do nada, diante da situação de que ali só estávamos nós três, pois ainda não havia chegado outros turistas, eu devia ter aceitado trocar o dinheiro! Sim! Eu tinha como trocar! Teria sido menos desconcertante. Aquele senhor astuto subiu o percurso para devolver minha carteira e, de certa forma, me testar, o que conseguiu. Achei que ele encenou a situação da troca dos cem reais para me constranger, pois ele poderia simplesmente ter me devolvido a carteira! Mas o importante é que o susto trouxe a lição de que eu devia sim ter de imediato aceitado trocar o dinheiro e evitaria passar por uma experiência meio amarga diante das minhas filhas por insegurança. E embora tenha nos dado um susto, poderia ter evitado tal dissabor na estreia delas nesse local inesquecível”
2 Comments
Realmente! Às vezes a vida nos testa e nos surpreende! Precisamos passar por determinadas situações para podermos fazer a escolha certa na hora de agir, o que muitas vezes não acontece! Abraços
Eu teria assustado da mesma forma e instintivamente reagido de forma a proteger a mim e minhas filhas…mas esta hiatoria é uma prova de que a verdade nos liberta e mentir nunca em qualquer situação não é o melhor caminho