Cumplicidade na era digital

Eu já escutei, li e escrevi centenas de histórias, mas poucas com personagens tão confiantes e com muita personalidade. Aliás, entendi bem o que significa “personalidade” nesta história que vou relatar.

Sempre falam de modismos e os usam como justificativa para tudo, mas eu aprendi que modismo segue quem não tem juízo e usa como desculpa, talvez, por não ter descoberto ainda seu próprio caminho.

Sou grata ao blog Varanda por me proporcionar tantos encontros com pessoas extraordinárias, lindas e fora dos holofotes, como aconteceu com este casal lindo, honesto e transparente. Juliana e Carlos Alberto, o Caíque, como prefere ser chamado.

Recentemente participei de um curso chamado “O poder da autorresponsabilidade”, criado por Paulo Vieira e que indico para todas as pessoas que desejam evoluir e mudar suas vidas para melhor. Foi ministrado pela psicóloga Rubia Franciosi em Luís Eduardo Magalhães em 2018 e nele, conheci Juliana onde tivemos um momento de trabalho em grupo.

Um dos trabalhos era ligar para uma pessoa próxima da gente que precisaria responder algumas perguntas sobre nós e nosso comportamento. Juliana não fez a tarefa e ficou sentada quieta em sua cadeira. Eu cheguei perto e questionei: -“Juliana, você não vai fazer a prática”? Ela me respondeu: – “Não”!

Mas eu insisti: -“Você não trouxe o celular? Quer o meu emprestado”? E ela respondeu: – “Muito obrigada, mas é que eu teria que ligar para meu marido, que também está sem celular, então, não farei”.

Mas minha curiosidade não deixou Juliana em paz e perguntei de novo: -“Mas você não tem como se comunicar com ele”? Ela me olhou, sorriu e respondeu: -“Eu e meu marido dividimos o mesmo celular e o aparelho fica em casa. No trabalho, eu tenho o da empresa e ele também tem o da empresa dele, e se precisar com urgência, ele me liga e vice-versa. E a noite quando voltamos para casa, ambos respondemos todas as mensagens do celular”.

Fiquei muito impressionada com este tipo de comportamento nos dias de hoje, então, a convidei para compartilhar essa história no blog Varada. Juliana conversou com o marido Caíque e aceitaram o convite.

Recebi o casal no início da tarde de um sábado. Ela falante, leve, solta e rindo muito. Ele um jovem compenetrado, sério e confessou que considera a esposa muito mais expansiva comparada a ele.

Perguntei aos dois: -“Vocês sabem que muita gente poderá criticar essa atitude de vocês”?  Me olharam com tranquilidade como quem diz “Está tudo bem!”

Tivemos um dialogo aberto, profundo, sem reservas e muito proveitoso. Casados há 5 anos, vieram do interior da Bahia à Luís Eduardo Magalhães, ele com 21 e ela com 20 anos, em busca de oportunidades. Conseguiram emprego de imediato, pois, segundo ele, moraram em casa de parentes que têm prestígio e bons amigos na cidade.

Um mês empregados, já organizaram a casa e começaram a comprar os móveis. Ela, Juliana, é mais organizada, inclusive nas contas da casa. Se justifica que no ano passado aliviou um pouco, gastaram com comidas e a reserva foi bem baixa, mas que este ano será mais rigorosa porque pretendem dar entrada em uma casa em 2020.

Pergunto se gostam de televisão, eles dizem que preferem Netflix e gostam muito de filmes e seriados. Saem só com amigos casais e assim preferem, porque pensam e falam das mesmas coisas. Contaram que quem capta mais amigos é ela, mas precisam ser aprovados pelos dois.

Sobre as redes sociais, os dois tem Instagram, porém, ela é que fica um pouco mais, mas não que seja viciante, diz ela. Quanto a religião, no momento estão em busca de algo que os completem.

Quando pergunto o porquê de dividirem o celular, eles se olham e riem com um riso de cumplicidade, ele mais sério, ela mais maroto.

Juliana me contou, com a aprovação dele balançando a cabeça: –“Nós tínhamos um celular bem simples, barato, antigo e resolvemos comprar um bom para cada um. Quando fomos ver o preço, ficou muito além de nossas possibilidades, então, após analisarmos, optamos por adquirir um celular dos sonhos e dividirmos seu uso”. Caíque continuou: –“Fizemos as regras e desfrutamos juntos a utilização do aparelho. Eu participo de meus grupos, especialmente do futebol, e Juliana dos grupos dela. Checamos os recados e cada um responde o que é para si”.

Então, fiz a pergunta que toda mulher faria, inclusive você que está lendo: –“Vocês não se sentem invadidos? E os dois respondem juntos: –“Não, de forma alguma, pois nosso casamento é baseado na confiança e fidelidade. Não existem segredos entre nós e quando alcançarmos nosso objetivo da casa própria, cada um terá o seu próprio celular. Todo casamento é uma balança e o nosso também é. Eu sou a paz e ela é o agito” – concluiu Caíque.

História inspiradora, não é mesmo?