Meu pai era motorista de caminhão na época. Ganhava a vida desbravando este chão. Ficava dias fora de casa, mas quando chegava, enfeitava nosso lar.
Todo domingo era assim: missa para encontrar Deus, galinha assada e maionese no almoço para saborear e à tarde, brincadeiras e risos altos desenfreados. Mas o início da noite era a hora mais esperada.
Sentadas uma ao lado da outra, minhas irmãs e eu aguardávamos em silêncio o programa Hora do Brasil no rádio, para que depois voássemos nas asas das músicas.
Meu pai colocava meu pé em cima do seu e bailávamos ao som das canções. Ele ria tanto que contagiava a todos! Depois, pegava a outra filha e como um rei, levava as princesas para o castelo.
Quando começamos a frequentar as matinês aos domingos, já sabíamos dançar e ao som dos “The Fevers” ensinamos muitas amigas e amigos a bailarem também.
Quando íamos aos bailes com a família toda, meu pai abria a pista de dança com gente e pisava com tanta leveza que parecia que tocava as estrelas sem sair do chão.
Hoje, quando tenho alguma dor que remédio nenhuma cura, danço sozinha até me sentir nos braços dele.
Quando estou feliz e quero que ele saiba, danço até sentir a presença de papai ao meu lado.
Quando estou com raiva, danço para que ele me ajude a acalmar o coração.
Quando estou ansiosa e aflita, danço para ouvir a sua voz dizendo “Rose, está tudo bem, tenha calma!”
Quando tenho algum problema e sinto que ninguém me entende, olho o infinito e sinto seu apoio através das lágrimas que descem pelo meu rosto.
Dançar é como uma porta que se abre para a vida em todos os sentidos. Quem descobriu o jeito de dançar, com a coreografia de sua alma, dores e amores, vive mais plenamente, com mais leveza e mais presença. O coração bate compassado e muitas vezes até descompassa, porque ele necessita das energias e vibrações que a dança oferece.
Dançar é viajar por mundos nunca visitados, pois de carona nas letras e no som da melodia, você vai a qualquer lugar. Dançar é o melhor que se pode fazer e o melhor presente que se pode dar. É se sentir rei ou rainha sem fazer parte da família real. É sentir o corpo tremer, tocar e ser tocado com muita pureza.
Dançar até cansar garante que o prazer e a alegria curem qualquer dor, pois faz você dormir em paz.
Dançar é mágico, alivia os medos, esconde as inseguranças, descobre as incertezas e os traumas. É uma terapia!
Dançar para mim é o caminho para estar mais próximo daquele que me ensinou esta arte que me encanta. Sei que meu pai está comigo em meu coração, dançando na mesma direção.
29 Comments
Sou melhor com uma caneta na mão do que mexendo o corpo… Mais admiro quem é capaz de se expressar com a dança
Lucia você me deu a honra de entrar no blog. Você é muito competente no que faz e muito atenciosa também. Muito obrigada.
Amo dançar! É tudo isso que você descreveu tão bem. Meu pai dançava muito bem. Ele e minha mãe amavam tango e bolero sem falar em um belo chote figururado.
Marcia nossa geração curtiu muito este tipo de dança. Que bom!!! foi tudo esplendoroso e divino.
Estive nos braços do seu pai dançando, ele realmente sabia, era muito bom.
Mas também quero falar que aprendi a dançar com meu pai, ele ensinou as 4 filhas a dançar em frente ao radio amarelo ouvindo a Guaíba de Porto Alegre kkkk
Era felicidade pura
Ivete você teve a honra e o prazer de bailar com martelli um bailarino e tanto. seu pai também lhe ensinou. que bom!!
Aos poucos vai contando sua história. Parabéns.
Roque conto as minhas e das outras pessoas, quem sabe um dia vc me conta uma sua e eu posto aqui?? seria muito legal!!
Que lindo texto amiga! Lembrei tanto do meu pai, que dava show no tango, twist e vários ritmos. Era ele que ensinava meu grupo de gincana nas provas de dança. Ele gostava tanto de música que fundou a rádio na minha cidade. Era um gentleman, o Professor Nelson. Saudades dessa época…saudades do meu pai…
Kathien nos tivemos a felicidade e dividir essa alegria com nossos pais. Muito obrigada!!
Ler tua história me fez lembrar do meu paique foi quem me ensinou a dançar. ..ensinou a mim e a minhas irmãs. Ele era literalmente um pé de valsa , e esse era o ritmo que mais gostava, e me ensinou com maestria . Se gosto pela dança e pela tradição gaúcha era tanto, que
o pedido que faz a mim, antes de partir para o além , acreditem : Ensina esse guri (meu filho de 2 anos na epoca) a dançar e cultuar a tradição pra levar adiante…porque eu não tenho mais tempo pra isso….
Flavia que lindo ler esse comentário seu. Só quem sabe o valor da dança entende o pedido do seu pai. Espero que tenha atendido amiga. rs
A dança é magnífica pra quem a faz de coração, não importa se está fora do ritmo, se está “mexendo os esqueletos” bem, o importante é sentir que a felicidade está passando por todo seu corpo, sentir que naquele momento só existe você e que aquele local que vc esteja dançando, não importa qual seja ele, mas que seja seu palco, com ou sem plateia, o importante é apenas sentir, toda vibração e emoção, dançar, dançar e dançar como se não existisse o amanhã e que naquele momento, voce se sinta o centro do universo onde as estrelas são e todo o resto são sua plateia feliz em vê-la.
Rodrigo, gostei muito do que li. Senti para mim. vou cuidar mais…
Que lindas memórias! Dignas de causar inveja. Cheiram a LIBERDADE! Liberdade de ações, de gestos, de vida. Parabéns!
Neldir eu me sinto bem assim como vc escreveu. Livre quando danço e quando escrevo. rs saudades daqueles papos “cabeça” nossos.
Ainda bem que numa festa em LEM já tive o prazer de dançar com meu pai.Entendo perfeitamente tudo que vc disse Roseli.Dançar ainda que sozinha ou acompanhada ,é libertador.Beijos!!
Monica que bom! seu pai ama muito você. Liberdade dos gestos, passos e pensamentos.
Não tive pai pra me ensinar a dançar! Ele foi morar com Deus alguns dias antes de eu nascer! Mas tive muitos amigos dispostos a me ensinar! E olha que aprendi “facinho”😂😂
Hoje estou um pouco fora de forma, mas com bastante ânimo pra reaprender a dançar e causar inveja a esta juventude que fica a noite toda com a cerveja na mão só observando!
Salete vamos dançar mais e dar um show ahahahah
Amo dançar, faz bem pra alma e para a pele tb hahaha, ficamos mais bonitas ….. Papai tb era caminhoneiro ❤️, e é muito animado igual era seu paizinho. Dançar é sentir a alegria, de estar vivo !!!!! 😘
Anny concordo com vc. Dançar alivia as dores da alma além de outras muitas coisas.
Texto muito bonito, encantador…Quando criança dançava nu grupo afro em minha cidade e achava o máximo.
Hoje quero voltar a dançar novamente ….
Sirlene toda dança é linda! voltar a dançar é libertador para mim.
Lindo, lindo, quando chegava a tardinha ou mesmo ao meio dia, o meu pai chegava em casa ligava o toca disco e colocava Teixeirinha e Meri Terezinha, tambem os montanari, e dancavamos, era lindo, lindo, parecia que flutuavamos, ja ezperava ansiosa, e nos bailes ele juntamente com nossa mãe , enchia a caminhonete atras, porque tinha capota, e iamos em todos os bailes no interior, amo amo demais.
Noemia que bom dar essa oportunidade para vc recordar. Muito bom e dançar é uma delicia.
Lindo texto, Roseli. Você redige muito bem.Parabéns!
Também sempre gostei de dançar. Pena que hoje é uma raridade eu ter essa oportunidade.
Amo dançar ,não tive oportunidade de curtir uma bela dança com meu pai,mas no momento em que li o texto essa vibração tão forte e contagiante que por minutos hoje bailei com meu pai ,amei o texto me emocionei ,muito obrigada.
Que lindo!!!! Neste texto encontrei ainda mais inspiração para dançar! Obrigada, Roseli. 🌻