Creio que poderia escrever um livro sobre minhas secretárias e tenho certeza de que vocês vão concordar comigo. Desde quando me casei, elas fazem parte da minha história de uma forma muito presencial, pois moravam conosco e participavam de tudo o que acontecia na família.
Quando me casei pela primeira vez, contratei uma loira, falante e que fumava mais do que eu, que na época fumava também. Ficou comigo por dois anos, dava palpites e queria mandar mais do que eu na casa, mas essa não foi a grande questão. Num belo domingo, fui passear numa praça com meu filho Rafael, de 4 aninhos na época, e ele me convidou para entrarmos em um bar. Entrei, os garçons logo o chamaram pelo nome e perguntaram: “Olá, garoto, vai o de sempre?”
Eu, atônita com aquilo, resolvi ver até onde iria a ousadia de meu filho e dos outros envolvidos na situação. Meu filho se sentou na cadeira e respondeu: “Sim, por favor!”
Logo, chegou um copo de suco de laranja sem açúcar que quase o fez engasgar. Chegando em casa, contei o ocorrido à minha secretária que disse: “Ah, dona Roseli, de vez em quando passo neste barzinho, se termino o serviço da casa mais cedo. Para mim, peço uma cervejinha e para o menino, suco de laranja sem açúcar.
Tive comigo uma moça que falava pouco, e por isso, eu não pude conhecê-la muito bem. Em uma de nossas férias de verão, deixamos a casa com ela para irmos à praia. Saindo da cidade, percebi que havia esquecido uma sacola e tive que voltar para casa. Entrei rapidamente e tive uma surpresa! Minha secretária já estava com visita! Um homem sentado na sala com ares de “estou tomando conta daqui”.
Agora, outra história bem interessante. Um dia, recebi o telefonema de uma loja:
– Olá, é a dona Roseli?
– Sim!
– Um momento, por favor…
– Oi mamãe, é o Rafael. Poderia vir me buscar?
– Onde você está, meu filho? (muito aflita)
– Estou numa loja que tem um carro dentro.
Minhas pernas bambearam. A vendedora me informou o local e fui correndo buscá-lo. Era uma loja onde fariam o sorteio desse carro e meu filho, curioso, quis vê-lo. Na maior inocência, ele me relatou:
– Mãe, a Tata (se referindo a secretária), estava conversando com um homem… acho que era namorado dela. Eu fugi, pois queria ver o carro bonito na loja. Quando saí, não a encontrei mais, então, voltei para onde estava o carro e a vendedora me ajudou a te ligar.
Imediatamente, liguei para minha casa. E não é que a secretária atendeu? Então, questionei:
– Fulana, está tudo bem?
– Sim, tudo bem, dona Roseli.
– E Rafael, está bem? – pergunto novamente
E ela, mentirosamente, respondeu que sim!
Uma delas se preocupava muito comigo. Quando estava me arrumando para trabalhar, ela dizia: “A senhora vai trabalhar com essa roupa? Pois não vai mesmo! Sua roupa já está estendida na cama”. Ou seja, roupas, sapatos e bolsas eram escolhidos por ela!
Eu trabalhava a semana toda, marido também, filhos na escola e no domingo a gente queria descansar mais um pouco. Acontece que a secretária morava conosco e tinha o costume de acordar cedo. Começava a trabalhar ligando a enceradeira e dizia: “Vamos, já é hora de se levantarem! Só porque hoje é domingo, não se trabalha? Trabalha sim! Olhe eu aqui!” – E ria, ria.
Eu sabia os sonhos de quase todas e procurava, na medida do possível, realizá-los. Uma secretária disse que queria aprender a ler, fazer contas e escrever. Então, exclamava: “Já imaginou, escrever todos esses livros um por um, que trabalho que dá!”. Para mostrar como acontecia a produção de um livro, a levei à escola, mostrei o mimeógrafo que era usado na época e expliquei como os livros eram impressos.
Eu saia de carro para caminhar todo dia cedo e num desses dias ela me disse:
– Dona Roseli, por que a senhora caminha? Para “esmagrecer?”
– Este é apenas um dos motivos – disse eu.
– Então você acha que andar de carro “esmagrece?”
Sim, ela falava errado mesmo. Mas voltando ao sonho que tinha…
Rafael ensinou matemática e Fernanda a alfabetizou. Um dia, chegando em casa, me deparei com as duas discutindo. A secretária me relatou que Fernanda não conseguia ensiná-la escrever “a borboleta avoa”. E a Fer dizia que o correto era “a borboleta voa”. Foi motivo de muitas risadas.
Eu passava muita vergonha com ela, mas explicar era inútil porque esta secretária era muito cheia de razão. Minha chefe foi almoçar um dia em minha casa, tomamos um cafezinho depois e ficamos conversando. De repente, a secretária veio com uma vassoura e eu lhe disse:
– Deixe para limpar aqui depois, por favor.
– Mas ela não é mais visita, sabe, Dona Menina! – respondeu a secretária que se dirigiu à minha chefe e continuou:
– Visita é quando vem a primeira vez e a senhora já veio várias vezes aqui!
Quando mudei para Luís Eduardo, pensei que a vida daria uma volta de 360 graus. Construímos uma casa para nós e uma para um casal que iríamos contratar para trabalhar conosco. Agora vou relatar algumas situações que aconteceram.
Uma senhora foi indicada por uma agência de empregos. Era uma mulher séria, compenetrada e tinha o sonho de organizar um quartinho para ela, mas por aquele período, ficou morando na edícula que construímos. Todo sábado, domingo e quarta, ela ia para um culto e eu incentivava, pois ela voltava mais feliz. Num belo dia, ela pediu para sair um pouco. Fui arrumar a cama que ela dormia e levei um grande susto. Encontrei várias louças encaixotadas e penso, até hoje, que ela estava começando a arrumar seu quartinho com as minhas coisas.
Depois tivemos um casal contratado, onde a mulher juntava todos os documentos do Julio na pasta, fazia a maior bagunça (mesmo sem ninguém pedir) e dizia: “Está aqui sua pasta, seu Julio! Pode ir trabalhar!”
Ela tinha uma peculiaridade que era: fazer a comida, colocar no prato e enfeitar com um invólucro. Depois, convidava a gente para se sentar à mesa. Fazia um espetáculo, como nos restaurantes finos, e dizia “tcham, tcham, tcham, tcham!” quando abria a tampa.
O seu marido, além de caseiro, era motoqueiro e gostava de participar de ralis com gente poderosa.
Outra história é a de um casal de evangélicos. A convivência passou a ser desinteressante, porque gostávamos muito de festas e no fim de semana, recebíamos amigos para usufruírem da piscina e churrasqueira conosco. Este moço que trabalhava para nós, passava de cara virada para não cair em tentação e achava um absurdo o que fazíamos. Dizia pra gente que Jesus Cristo não apoiava aquilo. Um dia, foi dormir na fazenda e voltou apavorado dizendo que não dormiu nada, pois naquele lugar havia um capeta solto em cima do telhado. Descobrimos que era apenas o barulho de uma grande árvore no telhado por causa do vento. Esse casal pediu demissão nos contando que o pastor falou que nossa casa não era ambiente para eles.
Mas o casal que vou relatar agora passou do limite. Ele, ex alcoólatra. Ela, muito trabalhadeira. Realmente, quando estávamos em casa, ele não bebia e se comportava muito bem. Entretanto, quando viajávamos, descobrimos que ele tomava conta de tudo em nossa casa, inclusive do Uísque, além de ficar se refestelando na sala de estar, se esticando no sofá. Não sabemos o motivo por se entusiasmar tanto, tomando posse da nossa casa. Claro que demitimos o casal. Mas passado alguns dias, fomos cobrados polo dono de um mercadinho local, que o tal funcionário folgado tinha feito uma compra em nosso nome. Não houve outro meio senão dividir o prejuízo com o dono do mercado, pois não havíamos autorizado estas vendas.
Interessante era um casal comilão, que servia uns pratos generosos no almoço e já perguntava o que iria comer no jantar. Não guardavam a comida para comerem mais tarde. Arroz requentado? Não podia não, pois fazia mal.
E a última, é a de uma senhora que se metia em todas as conversas, mas para evitar que continuasse com tal atitude, fiz um acordo dizendo a ela:
– Olhe, quando eu a chamar pelo seu nome, significa que quero você participando da conversa, ok?
– Melhor, tenho muita coisa para fazer mesmo e conversar com vocês atrapalha tudo – respondeu ela.
Até hoje eu penso que o acordo foi necessário para ela também. Porém, a observação que ela fez não se cumpria na prática. Ficava parada, olhando para mim. Surgiu então, este belo diálogo:
– Dona Roseli, a senhora já procurou um médico?
– Por quê? – respondi
– É que a senhora fala muito sozinha. Pode ser uma doença – disse ela
Hoje, falando sobre estas mulheres aqui, estou prestando uma homenagem a quem dividi muitas emoções. Vivemos muitos momentos, fui amparada e amparei, fui ouvida e ouvi. Elas fizeram parte da educação e dos cuidados com meu menino e minha menina. Eternamente grata às minhas secretárias do lar!
7 Comments
Gostei muito rsrs .
Muito engraçado.
Maravilhosas criaturas do lar!!
Uma das minhas, usava minhas roupas e sapatos para passear com Tiago! Kkkk
Outra trocou ele por 1 litro de leite…Deixou ele no mercado que pegavamos o leite.
Tenho muitas histórias das minhas secretárias também.
Engraçado essas histórias….cada uma com uma característica diferente, rsrs. Tive uma secretária que levava objetos embora colocando dentro do saco do lixo e colocava na lixeira …rsrs , descobri quando uma visinha me perguntou? Porque sua secretária leva tanto lixo embora ?
Maravilhosas criaturas do lar!!
Uma das minhas, usava minhas roupas e sapatos para passear com Tiago! Kkkk
Outra trocou ele por 1 litro de leite…Deixou ele no mercado que pegavamos o leite.
Pessoas abençoadas!!
Adorei! Grande privilégio poder ter o apoio das secretárias dos lar, mesmo com tantas surpresas.
Obrigada.🌻
Bj
Alguns desses relatos TB aconteceu conosco.