Os pais recebem as gêmeas que entraram recentemente na faculdade federal (aqui me reservo nos detalhes da família) e a expectativa de ambas as partes era enorme para este encontro. Não foi fácil passar num curso tão concorrido, mas elas deram um duro danado, se debruçaram nos livros no último cursinho, e o resultado não poderia ser diferente: passaram no vestibular e estão fazendo o sonhado curso.
Os pais, aflitos e curiosos para ouvir suas filhas universitárias, começam a se desencantar quando o discurso toma o rumo de atacar os capitalistas e defender ideias socialistas. A mãe acaricia a mão do pai para transmitir-lhe uma dose de calma como se dissesse “está tudo bem”, deixando que as filhas, deslumbradas com o novo mundo e com as novas experiências, lhes contassem, quase sem fôlego, o que estavam aprendendo na universidade.
Depois de esgotarem os argumentos que aprenderam em tão pouco tempo e de tentarem convencer os pais que estavam com a razão, o pai se levanta, dá uma volta na mesa e diz: “Pois é, minhas filhas, tens o primeiro impasse da vida universitária de vocês. Sou capitalista, acredito no capitalismo e o dinheiro que mando a vocês vem de nossa empresa. Desta forma, terei que distribuir o dinheiro entre seus colegas, ou então, parar de mandá-lo. Pelo que entendi, é isso que vocês estão defendendo?”
Ouvindo esse meu amigo, faço uma retrospectiva de minha atuação como profissional de educação. Como eu gostaria que essas jovens dissessem: “Meus pais, nós aprendemos que existem vários caminhos…” e citassem mais do que um, sem essa doutrinação, esse cabresto ridículo que alguns professores estão impondo aos seus alunos. Em tão pouco tempo na faculdade, já voltam defendendo ideias que nem conhecem. É isso que foram aprender?
Acredito que a educação é o caminho para a solução dos problemas do país. Mas não essa que aí está e que colocou o Brasil em 116º lugar, ficando inclusive atrás da Etiópia, um país paupérrimo. Creio na educação que liberta o cidadão, que abre as portas para o mundo, que dá asas à imaginação, que permite que o jovem sonhe e que ajude o estudante descobrir seu potencial. Que os alunos aprendam a respeitar os símbolos da pátria, que cantem o hino nacional com tanto orgulho que parece que o coração vai bater fora do peito. Que amem e defendam sua escola com toda a força e que cuidem dela como cuida de seu bem mais precioso. Que amem e tenham consideração pelos seus professores, diretores, zeladores, merendeiras, enfim, todos que fazem sua escola.
Acredito na educação em que ofereça escolhas para os alunos, que permita a liberdade de expressão e que dê vez e voz aos estudantes. Que o diferente seja respeitado e que cada um construa sua história com suas crenças e expectativas. Creio na educação em que o aluno respeite o professor como cidadão e autoridade, onde haja troca de experiências, ideias, energias entre quem ensina e quem aprende também.
E por falar em professores, eu não sei o que houve com minha classe, pois quando perguntavam qual era minha profissão, eu estufava o peito de alegria ao dizer com firmeza e clareza: “Sou professora”. Hoje, o que as mães menos querem é que seus filhos sejam professores e a maioria dos docentes não tem mais o mesmo prazer e satisfação para lecionar.
Nas comunidades rurais, onde comecei, havia três autoridades e nesta sequência: professores, prefeito e padre. Nós, docentes, éramos consultados para as decisões da comunidade e quando mudei para trabalhar na cidade, sentia o mesmo orgulho de ser mestre. A cada ano, eu sabia que várias crianças passariam pelas minhas mãos e teria, portanto, que preparar minhas aulas com mais novidades e surpresas. Pais e escola eram companheiros na vida das crianças. A gente tinha plena consciência de que os primeiros anos escolares eram tão importantes quanto os primeiros anos de vida e por isso, não mediamos esforços para proporcionarmos uma base bem feita.
A música, a alegria e a poesia estavam sempre presentes nas aulas e nas tarefas das crianças. A hora do recreio era o momento de observarmos o comportamento de cada um, sem que percebessem, para analisarmos a personalidade daquele que ficava o ano todo conosco.
O adolescente, que também tive oportunidade de trabalhar, tinha objetivo e reivindicações, e naquela época, por várias vezes fui questionada sobre uma feira de ciências que já estava ultrapassada. Queriam falar da Amazônia, do meio ambiente, melhorar o projeto. E juntos, professores e alunos, repaginamos a feira de ciências da escola.
Eu teria, na verdade, muitos exemplos para citar…
Na faculdade, tive grandes jovens que faziam parte do grêmio estudantil, que discursavam e defendiam seus pontos de vista com eloquência, elegância e educação no sentido da palavra. Faziam de tudo para não perder o ano e não podiam perder tempo, pois os grandes projetos os esperavam. Não lembro de ver um aluno sequer ficar sem roupa, desfilar nu, mostrar os seios e partes íntimas, mas lembro-me dos grandes profissionais que passaram pela minha sala de aula, hoje médicos, advogados, dentistas, professores, engenheiros, donas de casa que queriam estudar para aprender e saber conversar com o marido. Hoje, vejo grandes homens em minha região, no meu estado, alguns até fora do país divulgando seus trabalhos e mostrando suas competências.
Atualmente, vejo tanta vida desperdiçada, tanto jovem drogado, tanto filho divulgando o comunismo vivendo à custa dos pais, tanta falta de amor. Para agredir quem? Deve ser a si próprios, porque quem se ama, se cuida e se respeita. Mataram o espírito criativo dos nossos jovens, mas sabe por quê? Essa geração de professores enterrou o seu espírito criativo também e essa é a maior perda que uma nação perda ter.
Mas voltando ao pai das gêmeas, ele continuou dizendo: “Quem sabe um dia, vou ver minhas filhas nuas, que nem sabem o que defendem, usando drogas, gritando e agredindo as autoridades. Saibam que não terei aonde me esconder de vergonha, mas em meu testamento espero ter a sabedoria de deixar meu dinheiro para os projetos sociais de crianças e adolescentes que vão precisar mais do que vocês, já que não precisam do que construí com o suor do meu trabalho”.
E saiu da cozinha.
3 Comments
Primeiramente parabéns pelas palavras!! Na minha humilde opinião existem uma série de fatores que poderiam ser relacionados aqui no que diz respeito a nossa sociedade de modo geral. Há uma inversão de valores, começando pelos próprios pais que acabam passando o papel deles para as escolas, onde crianças com menos de 1 ano são largadas em tempo integral e ai segue-se dessa maneira até a tão prestigiada universidade. Instituições que seguem um sistema de ensino falho desde a pré escola, somando-se a isso a falta de “tempo” dos pais para dedicar atenção e cuidado com seus filhos, achando que devem se matar de trabalhar para ganhar dinheiro, assim suprindo sua falta com bens materiais. Depois de certa idade seus filhos acostumados a ter “tudo”, menos o principal limites, disciplina, respeito e valores éticos e morais, acham que a vida é só festa, e na primeira dificuldade que venham a enfrentar, falta-lhes inteligência emocional, resiliência e maturidade para lidar com a vida real, a qual seus pais nunca a apresentam. Enfim é assunto para escrever um livro, vou me ater a isso somente.
José Carlos, concordo que poderíamos escrever uma livro sobre o assunto, aliás vários, tal a seriedade e a quantidade de itens a serem estudados. Quanto a transferir a responsabilidade da educação para a escola desde pequeno isso traz um prejuízo muito grande para as crianças e uma afastamento das famílias, criando uma lacuna enorme porque uma instituição não substitui a outra.
Os pais dão prioridade a questão financeira e isso prejudica muito a relação e os filhos se sentem rejeitados fazendo com que não aceitem um não pelo resto da vida ocasionando crimes e outras atitudes negativas .
As crianças de hoje pedem limite, normas e regras uma pena que os adultos não entendem essa linguagem.
Um forte abração
muito obrigada por participar.
Exatamente Roseli, obrigado por responder. Um abraço.