escrever publicação
gavetas (ver publicações)
comentários
desconectar (sair)
  • Contemplações de uma vida plena
  • viagens
  • videos
  • dicas
  • fotos
  • visita de especialista
logologologologo
  • inicio
  • sobre
  • contato
  • viagens
  • videos
  • dicas
  • fotos
  • visita de especialista
Siga nossas redes sociais:
facebook varanda facebook varanda
A chegada dos robôs
25 de maio de 2019
A intrometida
1 de junho de 2019

Chora meu Olho

29 de maio de 2019

Hoje eu divido mais uma vez meu blog com meu marido, que tem lindas histórias para contar dada a riqueza de sua vida. Com a palavra, Julio de Oliveira Lins.

“Nos longínquos 70 anos, a minha cidade natal, Coaraci na Bahia, fervilhava com a febre do cacau. Tinha acabado de se emancipar do município de Ilhéus, mas já era grande produtora dessas amêndoas tão valorizadas e criadoras de riqueza.

Várias fazendas vendiam os produtos de suas duas safras anuais. Não havia praticamente estradas e das fontes produtoras transportavam as amêndoas em lombo de burros e mulas. Era um movimento extraordinário. Já havia na cidade cinco agências bancárias e empresas compradoras e exportadoras dos produtos. Era intenso o movimento dos feirantes e comerciantes, além de gente de todos os cantos do país e estrangeiros. A cidade tinha várias escolas e um modesto cineteatro. Os professores se esforçaram para transmitir excelentes ensinamentos e o movimento era sensacional. De vez em quando, aparecia circo dando vários espetáculos. O cinema exibia aos sábados filmes de Tarzan & Chita e de faroestes guerreando com índios. Apresentavam também os filmes de Gordo e o Magro para fazer os espectadores felizes.

A luz elétrica era escassa e as crianças brincavam de pião, ferrinho, chicotinho queimado e outras brincadeiras da época, como jogar futebol no escuro com limão e bexiga de boi.

No circo víamos espetáculos do palhaço, dos trapezistas, mas o que mais atraia era a “Bola Sete”. Os menores não davam a mínima importância, mas quando ela surgia no palco era um frenesi de palmas e gritos dos adultos, pois ela era uma mulata monumental e todos se derretiam quando ela rebolava aos sons das músicas de Carmem Miranda.

Mas voltando aquele frenesi de entrega do cacau, nos armazéns, surgiram figura que com seus braços terminavam com o trabalho efetuado por mulas e burros.

Apareciam trabalhadores braçais autônomos de outras cidades e logo ganhavam apelidos como: João Pomada, Louro da Barriga Queimada, Antonio Bogoió, Resto da Barragem e outros.  Mas uma figura com o apelido de “Chora meu Olho” era um negro, de estatura mediana, com 25 anos, analfabeto, era um dos que pegavam os sacos de amêndoas para entregar e ganhar alguns trocados. Como ele era alcoólatra, dormia sempre em lugares diferentes como banco de praça, embaixo de marquises e até na cadeia local quando aprontava. Ele detestava seu apelido e ficava muito bravo quando alguém o apelidava. Ele ganhou a alcunha porque tinha problemas em suas glândulas lacrimais e estava sempre chorando sem querer, mas detestava ser chamado assim. Uma vez, ele foi preso porque acabou com a procissão da cidade. Aconteceu o seguinte: ele estava acompanhando a procissão, a santa no andor, muitas velas acesas e músicas sacras entoadas com muita fé:

“Um anjo descendo, num raio de luz,
Feliz, Bernadete
à fonte conduz!

Ave, ave, ave Maria
Ave, ave, ave Maria…”

Os fiéis cantavam contritos e emocionados. De repente, um “vagabundo” chamado Valtinho, gritou: “Chora meu Olho!”

A procissão acabou. O padre cobriu a Santa para não ouvir tantos palavrões que saíram da boca do amigo “Chora meu Olho”, que ficou louco de bravo e devolveu respondendo: “chora meu olho é a &$@ de sua mãe, seu filho da puta!”

O pobre coitado estava cheio de cana e todos acharam que foi obra do capeta, então correram para casa. E ele dormiu na cadeia.

Esta história é um pouco das reminiscências da minha juventude. Hoje, depois de tanto aprendizado, acompanho com muito pesar aqueles trabalhadores de fardos do cacau. É triste saber que todos eram analfabetos e que por isso, não tiveram a menor chance de ter uma vida melhor.

Lembro-me dos olhos de “Chora meu Olho” olhando o espaço sem ter a mínima condição de se livrar dos efeitos do álcool e de suas consequências, que sem dúvida eram somente a sua alegria de viver.”

 

 

Compartilhe
4

16 Comments

  1. Alzira Schlosser disse:
    29 de maio de 2019 às 15:45

    Esse tempo erá muito bom ,nós éramos felizes e não sabiamos🧘‍♂️🧘‍♀️

    Responder
    • Roseli Vitoria disse:
      3 de junho de 2019 às 20:10

      Alzira muito obrigada. O segredo é viver intensamente cada momento porque ele não volta nunca mais.

      Responder
  2. Rita vaz disse:
    29 de maio de 2019 às 16:20

    Kkkkk muito engraçado seu modo de narrar! É como se estivéssemos vivendo o momento! Amei! Parabéns Júlio!

    Responder
    • Roseli Vitoria disse:
      3 de junho de 2019 às 20:10

      Rita ele tem cada história e eu sempre viajo com ele. amoooo

      Responder
  3. Anônimo disse:
    29 de maio de 2019 às 17:20

    Parabéns Júlio!! Uma história muito linda e concreta, cheia de verdades..

    Responder
    • Roseli Vitoria disse:
      3 de junho de 2019 às 20:10

      Muito obrigada, direi a ele.

      Responder
  4. Adelson Rodrigues disse:
    29 de maio de 2019 às 18:47

    Muito bom Julio Lins, conheço varias hstórias da sua terra que vc contava com alegria e prendia a nossa atenção.
    Abraço
    Adelson

    Responder
  5. Mônica Lins disse:
    29 de maio de 2019 às 19:37

    Kkkkkkkk……essa história eu tb não conhecia.Que riqueza de lembranças e de experiências traz uma vida de criança numa pacata cidade do interior.Tenho minhas dúvidas se evoluímos a ponto de aprender mais com celulares…..é,já que meu neto de 2 anos se distrai vendo joguinhos no celular.Sinceramente não sei para onde estamos caminhando.

    Responder
  6. Sergio Simões disse:
    29 de maio de 2019 às 20:16

    Conheço e tive oportunidade de conviver com JULIO LINS,um homem FORTE e Gentil , é realmente dono de uma VIDA cheia de lutas e boas histórias. Abração do AMIGO que sempre lhe admirou, Sergio Simões.

    Responder
  7. Antonio Carlos Souza Santa Rita disse:
    29 de maio de 2019 às 20:18

    Bela história, Sr.Júlio!
    Abs;
    Santa Rita.

    Responder
  8. Lucia Elena Chagas Rocha disse:
    29 de maio de 2019 às 20:30

    Viajei por Coaraci com sua história , obrigada por compartilhar conosco ,e assim conhecermos os costumes ,as riquezas ,e a história de pessoas que lá viveram .

    Responder
  9. Alex silva braga disse:
    30 de maio de 2019 às 12:09

    Recordar é viver .
    Fatos históricos engrandecem o ser humano dando a ele a oportunidade de mergulhar no passado e reviver .
    Parabéns

    Responder
  10. Marlei disse:
    2 de junho de 2019 às 06:51

    Parabéns Júlio! Emocionante história que nos faz repensar na simplicidade da vida e no quão valiosa ela é!!

    Responder
  11. Liliana de Jesus(Super Festa Lem) disse:
    28 de junho de 2019 às 14:00

    Faz agente viajar pela história com a riquezas de detalhes.

    Responder
  12. Liliana de Jesus(Super Festa Lem) disse:
    28 de junho de 2019 às 14:00

    Faz agente viajar pela história com a riquezas de detalhes. Parabéns

    Responder
  13. Léia Vilaça disse:
    10 de julho de 2019 às 15:31

    Parabéns seu Júlio, história linda

    Responder

Deixe um comentário para Antonio Carlos Souza Santa Rita Cancelar resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Outras publicações desse tipo

15 de outubro de 2019

Aprendizado na cachoeira


Ler...
9 de outubro de 2019

A erva terapêutica do sagrado feminino


Ler...
2 de outubro de 2019

Meu filho tem diabetes


Ler...