Sempre tive curiosidade em saber como vivem as mulheres divorciadas, quais as dificuldades e desafios que elas enfrentam. Observei e constatei que neste aspecto vivemos numa sociedade hipócrita, que finge lutar contra o preconceito e discriminação, e finge aceitar e entender uma mulher que optou pelo fim do matrimônio para viver uma vida melhor.
Apesar de tanta evolução e modernidade, a mulher nessa condição vive os mesmos dramas que sempre existiram. Entrevistei algumas delas na nossa Varanda:
– “Ser divorciada aos 50 anos, sem um companheiro oficial, tem sido uma experiência desafiadora. Percebi que a figura masculina ao lado é como um passaporte para os círculos sociais. Por estar desacompanhada, passei a ter, como a letra escarlate, uma “marca” para anunciar, um iminente perigo para as demais figuras femininas e seus companheiros. Ser inserida na vida social após um longo casamento que durou 26 anos, passou a ser quase impossível. “Quase”, pois acredito que seja possível encontrar ambientes onde uma mulher madura e desacompanhada seja bem-vinda e respeitada. O que gera em mim não é uma revolta, mas um desconforto com esta realidade: estar sem uma figura masculina ao meu lado. Atualmente, optei em amenizar o preconceito sentido à flor da pele através da realização de antigos projetos como: aprender a dançar, um novo idioma, viajar… sozinha! E está tudo bem! Mesmo que estejamos vivendo na era pós-moderna e avançamos em diversas áreas, principalmente da esfera comportamental, esbarramos muitas vezes em comportamentos sombrios ou pior, velados, não declarados como um preconceito real. Uma mulher sem um homem ao lado traz à voga reflexões (por serem excluídas) sobre autoestima baixa, amor próprio e empatia ausentes. Excluir mulheres divorciadas (no sentido de não ter marido/companheiro) muitas vezes parte de outra mulher, em minha leiga análise, por se sentir insegura de que a “avulsa” possa “tomar” aquilo que lhe pertence, ou seja, tomar seu companheiro. Mulheres “avulsas” costumam, de fato, serem interessantes! Em termos de relacionamento, o “ser interessante”, é um trevo de quatro folhas: raro! Pessoas interessantes costumam ter brilho próprio e experiência de vida, segurança advinda da maturidade e constatação que não existe certeza de absolutamente nada nesta existência e que, justamente, a possibilidade de ter a consciência que não pertencemos a ninguém, senão a nós mesmos, já que nada está garantido, nem mesmo a sólida união com o outro.”
(Advogada, 50 anos, divorciou-se aos 43 anos)
– “Pedi separação por incompatibilidade de gênios ou vulgarmente falando, “eu enjoei dele e ele enjoou de mim”. Não foi por traição e nem por dinheiro, pois nestes aspectos sempre vivemos muito bem. Nós preservávamos uma qualidade de vida junto com a família e fizemos ótimos passeios. Com o passar do tempo, comecei a perder a paciência com muita facilidade. Ele foi ficando mais velho e mais chato. Ele não evoluiu e eu procurei estudar e trabalhar no computador. Ainda estou na ativa e tenho energia como se tivesse 20 anos! Mas ele foi ficando velho em tudo, inclusive nas ideias. Ficar velho e não se dar bem, é horrível! Olhar para o outro, não estar feliz e chegar ao ponto de se odiar, é insuportável!
Um dia eu disse: “Para mim, chega!” Fui embora de casa e nunca mais encostei nele. Somos sócios, amigos e nada mais.
Existem fases na separação: no começo, vem a culpa e questionamentos como “onde errei, o que poderia ter feito?” Depois, vem a fase da tranquilidade: paz nos ouvidos, levantar a hora que quiser, fazer as coisas do meu jeito…e assim, vivo bem!
Quanto à discriminação, sinto na pele, desde as pessoas mais conhecidas até os parentes, que não sei por quais razões deixaram de conviver comigo. Maridos não ficam mais à vontade quando as esposas saem comigo, sem contar com aqueles que já me excluíram de vez.
Hoje sinto falta de alguém para dividir meus sonhos, para bater papo, que seja mensageiro de paz e amor. Vivo só com meus cachorros. Mas gostaria muito de viajar, amar, ser feliz com alguém porque gosto muito de conversar.”
(Bancária, 60 anos, divorciou-se aos 54 anos)
– “De modo geral, percebi que as pessoas realmente me enxergam como uma ameaça. Elas não me chamam para sair, nem para conversar e nem mesmo para programas de família, que muitas vezes era convidada, e depois do divórcio, ninguém mais me chamou para algum programa. Outro fato que percebi, foi que eles acham que vou pedir ajuda financeira. Nas pequenas coisas eu percebo a diferença, até nas caminhadas, no supermercado ou outro local público. É um comportamento próprio de mulheres que se diziam ser amigas, mas hoje, acabam me ignorando.
Outra situação que chamou minha atenção, foi na hora de abrir cadastro no comércio. Quando digo que sou divorciada, eles se preocupam mais com o comprovante de renda, pois acham que não tenho capacidade de ter renda própria. E em reunião de escola, festas e outros eventos, também acho muito estranho, pois sempre me olham de canto; aos poucos todos vão se acostumando, inclusive eu.”
(Engenheira Agrícola, casada por 22 anos, divorciou-se aos 45 anos)
– “O que é mais gritante para mim na separação é o machismo, principalmente por parte de uma grande parcela das mulheres. Acham que é normal a mulher passar por maus tratos e opressões, e que ela deve aceitar tudo do homem para manter o casamento; que o homem pode tudo, mesmo sendo cretino, antes e depois do casamento. Se a mulher separada está feliz, se demonstra que está superando, seguindo adiante e está mais bonita, para muitos ela está se comportando errado e que tais atitudes não condizem com uma mulher separada e descente. O modelo, para essas pessoas, é de uma pessoa feia, triste e acabada. Outro grande problema é receber cantadas de homens casados. Algumas mulheres sabem disso, só que fingem não saberem. Consideram a mulher separada uma ameaça e não a convidam mais para eventos de casais. A parte boa é que quando você vive uma vida de tolhimento e passa a fazer as coisas que quer, sente-se mais responsável e sem cobranças.
Quando eu olho para traz sinto meu espírito leve, com sentimento de missão cumprida, fico feliz! Sei que um dia terei alguém e que vai dar certo. Minhas escolhas é que foram erradas. Aprendi também que a lei “os opostos se atraem” é muito ruim num relacionamento; pode até satisfazer no primeiro momento, mas é necessário ter alguma ou algumas coisas em comum, como a forma de pensar e de ver o mundo, se desejar uma relação duradoura. Compartilhar as coisas de uma forma geral! Com a idade, você vai aprendendo a viver e percebe que não precisa de muita coisa. Aprendi a ter mais segurança e a ser mais confiante. Os filhos se tornaram meus amigos e hoje, persigo uma qualidade de vida em todos os sentidos.”
(Dentista, 50 anos, divorciada há 6 anos)
– “Tenho uma vida social muito restrita. Meu dia a dia se resume em: casa-trabalho, trabalho-casa. O povo não acredita que possa haver uma separação sem traição e fui muito questionada nessa questão. Inventaram histórias e fofocas a respeito dele. As pessoas se preocupam muito com a minha vida, mas não são aquelas que amo e que me amam. Antes, uma família me visitava, chamava para festas e viagens, mas depois da separação, não houve tais convites e eu acredito que não seja coincidência.
As dificuldades financeiras devido à separação são reais, pois saí de casa sem nada, somente com minhas coisas pessoais e tive que montar minha própria casa. Na época, quis evitar conflitos sobre dinheiro e hoje me arrependo; devia ter brigado mais, mas agora passou! As pessoas que eu gosto e gostam de mim, não me abandonaram e estão sempre ao meu lado.
A parte mais difícil da separação é a fase que antecede o processo todo. Tive dificuldade em tomar essa decisão, porque pensava em tudo, na sociedade, na família, nas amigas, na igreja e me preocupava como seria a reação de cada um, porém, não tinha medo de me sustentar sozinha. Ele sempre insinuava que iria se separar de mim, mas quando fui eu quem tomou a decisão, ele se assustou, pois não esperava que partisse de mim esta atitude.
Acredito que numa separação, os dois são culpados, marido e mulher, um pouco mais ou um pouco menos.”
(Engenheira Civil, 50 anos, divorciou-se há 3 anos)
Caros, amigos. Nas conversas que tenho, escuto sempre a mesma coisa: “tenho um arrependimento, sim…de não ter me separado antes, quando era mais jovem”.
Vejam bem, não estou aqui divulgando a separação. Meu objetivo é dizer que não é fácil tomar esta decisão, mas não é impossível. Conheço todas essas mulheres extraordinárias que contaram suas experiências e eu poderia citar mil coisas boas que elas vivem hoje, como estão felizes e o quanto evoluíram ao passarem por esta fase tão difícil em suas vidas.
O que não pode, é viver um casamento de fachada e fingir que está tudo bem. A infelicidade traz doença para o corpo e para a alma, e em muitos casos, a mulher perde completamente a vontade de se cuidar devido à relação doente que vive. É preciso, antes de tudo, se amar! E no final, com um companheiro ou sem, o importante é ser feliz!
12 Comments
Nossa….me vi um pouquinho em cada uma dessas histórias! Fácil não é mesmo!!! Pior é um casamento falido.
Sonia você falou tudo pior casamento falido. beijos
O mais irônico é que se prega o empoderamento da mulher mas essa não se ama. Como vc pode impor que os outros te respeitem e te aceitem se vc não faz isso por vc mesma? Falo que as amigas dessas mulheres não se amam. Porque se elas se amassem e reconhecessem suas qualidades, conseguiriam dar suporte para uma mulher separada. E não se sentiriam ameaçadas.
Antes de tentarmos mostrar ao outro nossas qualidades, temos que nos conhecer primeiro. Para nos valorizar.
Parabéns a essas mulheres que escolheram ser felizes! 👏🏻👏🏻👏🏻
Fernanda ser feliz do jeito que a pessoa quer deveria ser uma lei para que o mundo fosse mais alegre. Sociedade idiota.
Concordo plenamente com você Fernanda! Uma vez ouvi uma mulher recentemente separada falar que as pessoas pensam que periquita de mulher separada está na rifa ou no bingo, sempre tem alguém querendo ganhar! No momento achei um tanto vulgar a maneira que falou! Mas depois analisando bem, percebi que ela estava certa, só não soube se expressar descentemene. Talvez por isso Fernanda as mulheres”casadas” se afastam. Mal sabem elas que quando saímos deu relacionamento (já frustrado) a última coisa que queremos é isso. E qto a descriminação no restante da sociedade é exatamente o que as histórias a cima contam! Infelizmente! Adorei vc abordar este assunto Roseli! Muito obrigada! 🙏
Que que você gostou porque eu também gostei do seu depoimento. Fiquei chocada com o que acontece em 2019, pensei que estava em 1957. muito obrigada pela participação.
Enriquecedor conhecer o depoimento de algumas mulheres que optaram em romper com o vínculo jurídico do casamento. A pior dificuldade é se sentir excluída e demais reflexos que isso traz, como a solidão. E o lado bom do divórcio é saber que a vida começa quando decidimos sozinhas encarar e aceitar o autoconhecimento para, enfim, elevar o amor próprio e alçar novos e incríveis voos.
Muito obrigada. Excelente texto.
Muito real. Antigos casais amigos não convidam mais pra jantar. Existe sim a exclusão, existe o preconceito. Existem muitas mulheres livres mais jovens e homens de 50anos tem uma grande tendência a procurar uma companheira mais nova. Alguns homens mais novos já se interessam pela ” experiência e carência ” , com objetivos sexuais restritos. Difícil acreditar no tanto que somos uma sociedade machista em 2020!
Somos excluída da família na maioria das vezes Simm !
Também passei todo esse processo de separação ainda muito nova, com 30 anos (relacionamento de 9 anos) obviamente fui abandonada por minha família e amigos em comum do casal. A mulher sempre é culpada por tudo e todos. Se não deu certo a culpa é dela! E fica fácil acreditar que ela “maltratava” o filhinho da mamãe de 40 anos, que ainda pede ajuda financeira para a mãe, para beber e gastar com prazeres extraconjugais. Meu ex trouxe até amante para nossa casa, achei roupas intimas de mulher no armário dele e claro você começa a investigar e encontra milhares de coisas, e-mails com mensagens de encontros e fotos de outras mulheres de lingerie. Óbvio a culpa é da mulher. Quando não aguentei mais peguei minhas coisas e minha paz e fui ser feliz comigo, e como você disse só me arrependo de não ter feito antes. Sem dúvidas minha vida é muito melhor hoje, bens materiais conquistamos de novo, sim, mas não deixem de procurar uma boa advogada e uma boa psicologa nesses momentos. Dói, vai doer, talvez a ferida nunca cicatrize, mas antes uma ferida aberta e você livre, do que a ferida aberta e você presa.
Gostei dos depoimentos , parabens p vcs q escolheram o caminho para a felicidsde.
A separação è muito difícil, eu não tive mais forças para lutar por meu casamento, meu esposo não mim considerava mulher, dizia que eu parecia um homem, nada em mim lhe agradava, meu rosto, pernas com veia alta, corpo mal feito, manchas, todo dia ele mim dizia isso eu tenha 20 anos tão jovem eu sempre soube que não tenha uma grande beleza, mas ele mim mostrou o quanto sou feia, pra ele eu era imprestável e era eu que fazia tudo em casa, estudava, trabalhava ganhava pouco mais trabalhava e ajudava nas despesas da casa, sempre esteve ali ao seu lada para ajudar ele em tudo, falava varias vezes por dia que não ir aguentar aquela situação, ele nem ligava ficava rindo, as vezes ele dizia as coisas comigo isso mim machucava muito, eu ir chorar e ele ficava dando gargalhadas de mim, a minha dor causava nele alegria. Acho que ele nunca gostou de mim, foi uma ilusão minha pensar que ele sentia algo por mim, de onde que ele bonito do jeito que e ir gosta de mim que sou tão feia, ele quer uma mulher linda, bonita, com um belo corpo, exuberante, malhado, que te de orgulho de ter uma mulher, na vida dele eu não foi nada, apenas uma coisa muito honrosa que infelizmente passou por seu caminho. Assim é a vida eu nunca foi suficiente para ele em nenhum dos sentidos.