Meu marido sempre conta as histórias de sua infância e eu dou muitas risadas. Vou partilhar com vocês uma delas:
“A minha cidade na Bahia era pequena, mas já naquela época tinha muito progresso estimulado pela febre do cacau. Foi habitada por posseiros, desempregados, comerciantes, gente importante de várias cidades, que para lá foram fazer negócios e muitos terminaram fazendo as suas moradas definitivas. Lá tinha cinco agências bancárias, advogados, médicos, várias escolas e cursos ginasial e comercial. Mas o que eu quero mesmo, é contar sobre o que acontecia nas feiras livres aos sábados.
Começavam de madrugada e terminavam ao pôr do sol. Eram dias muito intensos, onde os habitantes da cidade faziam a feira, que era a compra de gêneros alimentícios e até de artesanatos. Vendia-se de tudo: farinha de mandioca, feijão, frutas, hortaliças e outros produtos como milho assado, mingau de milho verde e de tapioca. Era um barulho daqueles, provocado pelos comerciantes e feirantes que gritavam oferecendo os seus produtos. Existia muita harmonia e pequenos desentendimentos eram logo solucionados. Havia respeito mútuo entre os vendedores e clientes.
Eles, os vendedores, entretanto, tinham muitos apelidos e muita gente com sobrenome de bichos como coelho, galo, leão e outros.
Naquele tempo, xibungo, perobo (como se fala na Bahia – nos dias de hoje é bicha, gays, homossexuais) era muito difícil de ver. O preconceito era muito grande e aqueles que “se escondiam no armário” dificilmente tinham coragem de sair. Fiz essa colocação para contar uma briga que aconteceu em virtude da falta de comunicação.
Havia um feirante que tinha a alcunha de Panta Leão e ele gostava de assim ser chamado. Era um senhor de pouco mais de 30 anos, que atendia sua clientela com alegria e prestimosidade. Vendia produtos de uma granja que possuía, tomate, maxixe, quiabo, coentro, aipim etc. Mas o grande problema dele era o seu nome verdadeiro. Tinha o sobrenome de bicho. Apesar de ser uma pessoa livre de qualquer suspeita, o seu sobrenome era Veado (Viado na pronúncia).
No entanto, ele não se importava e atendia o cliente normalmente quando era assim tratado: -“Seu João Viado, eu quero tais produtos!” Não havia problema algum, mas dizia baixinho para si mesmo: – “Da próxima vez, me chame de Panta”.
A briga aconteceu quando um cara, talvez com a cabeça cheia de pinga, chegou à frente dele e disse: -“Seu João, viado!”
Aí, caros amigos, ele tomou como ofensa. Veja que o grande problema foi a vírgula. Na primeira abordagem, a entonação, a vírgula, foi colocada depois do nome “viado” e na segunda, antes da pronúncia de “viado”.
Deu aquela confusão! O Panta Leão partiu para a porrada e daí pra frente quase todos os feirantes entraram na briga. Foi tomate, maxixe, molho de coentro para todos os lados. Depois, tudo foi serenado e o Panta Leão foi embora e passou meses sem aparecer na feira.
Um belo dia, ele bem cedinho retornou puxando um jumentinho carregado com os seus produtos, e montada no meio da cangalha toda acolchoada, uma cabrocha (mulata jovem) com um barrigão daqueles! Era a Matilde, companheira do cara brigão. Na verdade, o Panta Leão estava fazendo um retorno triunfante, mostrando a todos que ele era Viado somente no nome. Foi recebido com regozijo e palmas pelos companheiros feirantes e pelos clientes presentes.
Terminando, um amigo se aproximou dele, que trazia na face aquele sorriso do lado do queixo, e perguntou: – “Como vai ser o nome do bebê, Panta?” Ele respondeu: – “Se for mulher, qualquer nome serve. Pode ser Eulália, Noêmia…sem problema. Mas ser for menino, ainda não escolhi, mas a minha grande preocupação é se colocarem nele o apelido de Pantinha Viadinho”
24 Comments
Muito boa. Temos histórias hilárias a vida nos presenteou.
Roque cada história que daria um belo filme e faria muita gente rir.
Kkkkkkkk mas que sobrenome hein!?
Muito engraçado.
Kkkkkkkkkkkkk
Kkkkkk!! Muito boa mesmo.
Grande historia. Nada se compara a família Pinto Brochado.
Essa história eu não conhecia……muito boa!
Monica consegui que ele se abrisse para meu blog que agira é nosso diz ele. rs
Júlio, meu pai, homem especial, para mim um gigante e sim: compreendido, respeitado e amado, trazendo ótimas histórias reais a este blog! Te amo meu pai!
Obrigada, Roseli! 🌻
Isabella ele já é um contador de histórias agora terá cadeira cativa aqui. Beijos
Mal de nome o vivente kkkkk. Quase igual o Ainda Bebes de Aquinos Frois.
Maravilhosa a história ,muito divertida .
Deu para dar alguma risada?
Muito boa história!! Kkkkkk
Eu só imagino o Júlio contando e ilustrando com gestos o tal fato verídico. Ele é ótimo contador de histórias e essa é muito boa. Abraço
Exatamente Neldir, as pessoas ficam encantadas com sua maneira de ser.
😂😂😂 realmente uma vírgula faz toda a diferença!
Linda história!!💋❤
Muito boa a istoria
Muito engraçado e como sempre nos nomes familiares continua mas com diminutivo kkkk
Silvana e o bulling?? ri muito e imaginei o sofrimento do cidadão.
😂😂😂😂😂😂😂
Generic Levitra Canada Pharmacy viagra Prix Du Vrai Viagra Auregenerics Fairy Pharmacy